Muito se fala sobre o uso da tecnologia como uma grandiosa solução para todos os problemas existentes no processo ensino aprendizagem. Da mesma forma,ela é a chave mestra para o portal da nova escola e da nova educação e transformará o educando num ser cibernético e com uma cibercultura refinada e pronto para enfrentar todas as demandas do mercado.Algo fantástico que promoverá uma verdadeira revolução e colocará fim a todas as mazelas da sociedade.
Refletir sobre o uso da tecnologia no processo ensino aprendizagem é muito mais profundo. É muito mais do que abarrotar as nossas escolas com computadores de última geração,salas de aula digital,softwares educacionais e outros tantos acessórios que ficarão ali,muitas vezes,para acumularem pó ou funcionárias terem de limpa-los de quando em quando. A tecnologia na maioria das vezes, na maioria das escolas e até mesmo em órgãos públicos e mesmo privados está aí para preservar todo um conteúdo instrucional ou gestor tradicional, mascarado de uma roupagem nova, travestido de informatizado ou digital. Muitos softwares educacionais,por exemplo, trazem a imagem da modernização,são vendidos como algo admirável que na verdade nada mais são do que massificadores de informações.
Continua-se desta forma ao processo de exclusão.É a tecnologia a serviço de uns em detrimento do todo. Temos que ter claramente que a tecnologia não veio para arrasar com tudo o que está aí, apesar de instituições educacionais, empresas e os governos insistirem que sem a apropriação das ferramentas que ela nos traz estaremos acabados. Assim como está posta aos nossos alunos,aos nosso educadores,aos sistemas educacionais ela só servirá ao comércio eletrônico,um novo tipo de economia,a ampliar os adeptos de sites de relacionamento,chats e outras formas de enquadramento da capacidade da população dita analfabeta digital. Refletir sobre tecnologia no processo ensino aprendizagem deve iniciar-se na figura de quem é o agente deste processo: o professor.
Há uma expressão utilizada no meio da cibercultura de que o professor é um “imigrante digital”.Ele é um estranho que chega ao mundo digital,ouve falar de vários espaços (zonas digitais) que pode conhecer,visita algumas “cidadelas digitais” como sites de relacionamento,cria seu e-mail,acessa sites bancários,consegue digitar sua senha,acessa alguns blogs,copia e cola conteúdos que acha interessante reproduzir e ler com seus alunos.E isto lhe basta ? Não. Certamente ele quer mais e o primeiro passo para que toda esta tecnologia digital comece a resultar em produtividade é necessário mostrar e ensinar ao educador como usar as ferramentas tecnológicas.Ele deve aprender a ser produtor de seu próprio conhecimento para pode conduzir seu aluno por este mesmo caminho.
Ouço muito que o professor tem medo do computador, do data show, é resistente em aprender coisas novas ou está numa idade avançada, cronológica ou profissionalmente. Nada disso.Há que se propiciar ao professor,assim como ao aluno,a oportunidade de entrar em contato com tudo isto.Só tememos o desconhecido e só temos medo do computador e de suas possibilidades por desconhecê-lo.Nós temos que aprender a produzir e compartilhar esta produção nossos pares,nossa comunidade,com nossos alunos e com o mundo. Refletir sobre a escola é outro ponto importante quando se aborda este assunto. Sempre questionei,pelas escolas públicas ou privadas pelas quais passei,qual era o papel daquela escola na comunidade e que tipo de aluno queríamos formar ao final dos cursos ali existentes.
Nada adianta um magnífico prédio,salas de aula adequadas,salas de recursos,enfim uma escola padrão se o seu principal papel dentro da sociedade e do contexto cronológico “educar” for simplesmente transmitir conhecimento através de professores de reconhecido saber ( verdadeiros arquivos de informação).A escola,como instituição,deve ter claramente seu papel no contexto atual de que não é única,não tem uma padronização de alunos e que eles formam um grupo de múltiplas aprendizagens,que a comunidade onde está inserida é multifacetada em todos os sentidos e que faz parte de um todo,que o professor,o funcionário,a equipe diretiva possui culturas e potenciais diferentes. Hoje a escola deve propor um processo ensino aprendizagem em que ela proporcione a sua comunidade escolar (aluno, professor, pais e funcionários) a oportunidade de se ter contato com a informação, de organizar (a partir desta informação) o conhecimento e que haja ao final de todo este processo a produção do conhecimento e a interatividade deste resultado com a sociedade onde ela está inserida.
Os desafios do processo ensino aprendizagem usando a tecnologia da informação e comunicação são muitos, mas não impossíveis de serem superados. O primeiro desafio será a escola dar-se conta das mudanças sociais,saber trabalhar com culturas diferentes,com diferentes potenciais ( são múltiplas as formas de aprendizagem) e afastar definitivamente a idéia de que ela é transmissora de conhecimento e passar a adotar a postura e a posição de orientadora e organizadora da construção do conhecimento dos seus educandos de forma interativa.
Já ao professor cabe tomar consciência de que ele e a sua escola fazem parte de um contexto global que muda a cada dia com um volume de informações extremamente grande. Ele é o agente que deverá promover a formação do conhecimento,dando sentido as informações que existem,interagindo com seu aluno levando-o a tratar as informações criticamente,contextualizando o conhecimento a nível de escola e de mundo.Ter presente em cada ação que ele e o aluno não são sujeitos somente da história,mas sujeitos do mundo e autores de seu próprio conhecimento e que este deve ser compartilhado com os demais e com o mundo.
Por fim, escola e professor devem refletir como o aluno adquire seu conhecimento hoje, como ele aprende e que hoje ele faz parte de um grupo, de uma tribo e que tudo pode ser aprendido em grupo, em conjunto e todos ensinando a todos a todo o momento.
(Autor: Renato Hirtz)
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