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segunda-feira, 23 de maio de 2011

CAUSO : O CHATO DA TURMA



     Astrogildo era um daqueles alunos criados no interior.Por mais que se esforçasse não conseguia perder o tipo característico de “grosso”.De origem alemã, mantinha o sotaque carregado e aquele jeito ingênuo de interiorano.Em se tratando de boas maneiras ou etiqueta não possuía nenhuma.Sutiliza e “fragnômetro” passaram longe do rapaz.Em compensação, estava sempre pronto para ajudar os colegas e professores no que precisassem.
     Apesar de ser corpulento tinha uma simpatia pueril que atraía seus colegas.Era o colega que divertia a turma, provocando risos e levantando o astral de todos ora com suas frases mal formuladas ou com suas intervenções desastrosas na sala de aula.
     Na sua turma, 1º ano do ensino médio, era considerado um aluno abaixo da média, porem muito esforçado.Às vezes se tornava chato.Atrapalhava o andamento das aulas com suas parvoíces. Com “as guria” , como dizia, era um desastre se bem que muitas colegas o consideravam um gatinho.Não podia abrir a boca senão estragava tudo.Se falasse era um caos.Com um vozeirão de “alto falante de poste” , como os colegas o chamavam, dava um susto certeiro em quem estivesse por perto ou se falasse ao ouvido de alguém.
     Quando estava numa “roda” o pessoal já ficava de sobreaviso.Gesticulava muito quando falava e com isto não era raro dar um tabefe em alguém, sem querer.Se chegava para cumprimentar ou abraçar um amigo a coisa ficava perigosa.Quase esmagava a mão do sujeito ou quebrava costelas com um “abraço amigo” .
     Era um trapalhão devido ao seu tamanho e modos bruscos.Se entrava atrasado na sala de aula, junto com o pedido de “cença” ouvia-se um estrondo.Era a porta que ele fechava atrás de si.Se um professor o chamava para fazer alguma coisa ou lhe entregar algo, podia contar que a cadeira onde estava sentado ia parar no chão.
     As intervenções que fazia durante as aulas eram cômicas e tiravam a concentração da turma e provocavam largas risadas.O problema que as perguntas que fazia eram realmente dúvidas para ele.
     - “Fessora” o sujeito da frase não é o cara que faz a ação? - questiona seriamente a professora de Língua Portuguesa.
     -Sim, é aquele que faz a ação.Qual a dúvida?
     -E o que tem que ver o sujeito oculto se eu não sei quem é?Como vou saber se foi ele ou outro que fez a coisa?
     -Calma Astrogildo.Vamos por parte.A expressão sujeito oculto.....A professora com toda a paciência esclarece da melhor forma para Astrogildo o significado de sujeito oculto. Nas aulas de Matemática tudo complicava.Era muito difícil entender tantas regras e fórmulas. 
     -Astrogildo, pega a tua calculadora e soma para mim 7,39,mais 4,325 e 9,45.Qual é o total? Houve um breve instante de silêncio na sala e todos dirigiram a atenção para o rapaz que não tirava os olhos da calculadora.
     -Não dá pra fazer “ssor”.A minha máquina não tem vírgula ou não “to” achando a dita.
     Os colegas se entreolharam com risadinhas discretas de escárnio.O professor forçou um sorriso amarelo, engoliu em seco e iniciou uma explanação de como utilizar corretamente a calculadora.
     E assim o Astrogildo ia levando o ano letivo, refazendo um trabalho aqui, recuperando uma disciplina ali e superando com muito esforço os obstáculos que vinham pela frente. 
     Com história, geografia e inglês as coisas iam relativamente bem.Tirava a nota que precisava para manter-se na média.
      O problema pior era as aulas de biologia.Apesar de ter um interesse quase doentio pelas aulas, seu desempenho era terrível.Adorava como o professor ministrava as aulas, quando “borboleteava” com assuntos paralelos a disciplina e quando, para relaxar, contava “a boazinha do dia”.
     Às vezes não entendia “de cara” a piada contada pelo professor, mas participava da risada geral.O mais interessante, e tentava imitar, era a “malandragem” do professor em driblar as sacanagens que os alunos preparavam para fazer uma “gozação” sobre algum assunto ou situação em sala de aula.
      E uma certa ocasião, o professor concluía o conteúdo do bimestre que era sobre Reprodução Humana, depois de ter respondido quase uma centena de perguntas (a metade do Astrogildo!) e revisado certamente uma três vezes, explicou o conteúdo que cairia na prova bimestral.
     O Astrogildo entrava em pânico cada vez que ouvia a palavra prova ou teste.Desta forma, despejou sobre o coitado do professor uma série de perguntas relativas a prova.Com uma paciência divina o professor procurou esclarecer da melhor forma Já trôpego e com uma certa impaciência o mestre prepara-se para sair da sala quando o Astrogildo questiona quase aos berros:
     -“Ssor”, os genitais entram na prova?
     - Sim, Astrogildo.O Capítulo sobre os Órgãos Genitais cai na prova.
     - E os testículos entram também?
     O professor no limite de sua paciência e já atordoado com o burburinho característico da troca de períodos e saindo pela porta, berra:
     - Se entra eu não sei, meu filho, mas que ajuda.... ajuda!
     A turma cai numa gargalhada só e Astrogildo ficou sem entender nada!

Autor:
RENATO HIRTZ

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