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segunda-feira, 23 de maio de 2011

Gralhas Azuis Felizes.Só isto!

Blog de coisastantasderenatohirtz :COISAS TANTAS DE RENATO HIRTZ, Gralhas Azuis  Felizes.Só isto!
   Era um alemão alto, forte, de fala carregada no sotaque característico de sua origem. Já possuía uma idade avançada.Rosto com traços fortes indicavam uma vida que não tinha sido tão fácil no seu trajeto.Sentado na ponta de um banco da praça principal acompanhava com olhos astutos o calmo movimento da avenida mais importante do município.
   Eu observava sentado na outra extremidade do banco com minha esposa, a limpeza e o toque de humanidade que havia naquela aconchegante cidade. O relógio girava em torno das dezenove horas e pequenos grupos de jovens se reuniam naquilo que seria um espaço denominado por eles de “point”.Vinham em seus carros,motos e até em elegantes e zeradas bicicletas.
   Outra detalhe que me chamou a atenção é que não havia discriminação pela forma que se locomoviam na cidade. A garotada era calma e seus semblantes eram marcados pela felicidade. Os cumprimentos eram os mesmos das cidades grandes,assim como o linguajar já sem os “erres” e os “ãos” característicos da origem étnica.As brincadeiras não eram diferentes.Tudo igual aos jovens das metrópoles.Só um detalhe chamava a atenção: possuíam uma educação e uma tranqüilidade que me causava estranheza. Estavam reunidos os bandos. Já ocupavam um bom trecho da avenida lá pelas vinte horas da noite.Estacionavam seus veículos respeitando a sinalização,não pisavam na grama e não passavam por cima dos canteiros floridos e os invólucros dos lanches e as latas de cervejas e refrigerantes que consumiam eram colocados (pasmem!)nas diversas lixeiras espalhadas pelo local.
   Curiosamente, os grupos (ou as tribos, como queiram) cumprimentavam-se de modo respeitoso. Não se misturavam,mas conviviam pacificamente.Não havia tensão no relacionamento entre eles.As gozações,os gritos e risadas tinham sua origem na alegria. Eu tinha uma sensação estranha e ao mesmo tempo agradável de humanidade observando a felicidade daqueles jovens de cara limpa. Voltava aos meus tempos de guri.Eles estavam se divertindo,namorando,dando e recebendo “seus amassos”,beijando e vivendo sua juventude de uma forma que há muito tempo eu não via.
   Não enxergava em nenhum rosto a revolta. Não vi nenhum ato de   vandalismo ou de agressividade.Havia neles o impulso da juventude,é claro.Em certos momentos me diverti com as brincadeiras que faziam e algumas piadas que consegui captar.Estava me sentindo jovem novamente e gostando de estar ali.Passavam por nós entre risos e conversas como gralhas azuis.Dirigiam seus olhares para nós e,naturalmente,meneavam a cabeça,outros acenavam com o polegar em sinal positivo e alguns (mais arrojados) soltavam um alegre e sonoro “boa noite”.Naturalmente...
   Aquilo fazia parte de seu cotidiano.Naturalmente... Um tanto entorpecido com aquilo não me contive em comentar com minha esposa sobre aquele quadro com uma moldura que há muito não víamos. Voltei-me para o tranqüilo senhor alemão que quase ressonava ao nosso lado e disparei:
   - Impressionante como estes jovens são diferentes da cidade grande. São tranquilos...
   Fui interrompido por uma orgulhosa voz grave do senhor:
  - Bah!Educaçon moço. Educaçon.Aqui o criança nasce e chá vai colocada direitinha no caminha certo.Tudo direitinha com família estruturado,sabe .Segue tradiçon.Aprende viver no comunidade,no respeito e dá valor a trabalho desde gurri.Se dá problema no cassamento do pai e mãe,o família apóia educaçon e cresce respeitando tudo isto aqui.Gente cria eles sentindo orgulho do que som.O família dá muito apóio e tudo já cedinho estuda e trabalha,non.A cambada aprende viver bem...é só isto!
   Parou de falar como se tivesse gasto a munição de respostas. Levantei e sai de mãos dadas com minha esposa,sem antes me despedir do senhor de origem germânica.Olhei para minha companheira de aventuras fiz uma expressão de espanto e sorrimos um para o outro com “educaçon” e “respeita”.” É só isto...” e demos graças a Deus por termos tido uma família assim como nossos   filhos possuem também.É só isto...


Renato Hirtz
Março de 2011


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