A escola ficava localizada no centro de uma vila.Era um prédio todo de alvenaria e ostentava certa opulência pelo tamanho e arquitetura.As condições físicas eram muito boas.Era considerada uma escola padrão.
Alexandrina era uma professora de carreira que chegou a diretora por seus méritos.Dona de uma vitalidade sem igual não parava de incentivar os professores, promover atividades com os alunos e encontros de integração entre a comunidade escolar.
Certa feita, preocupada com os parcos recursos destinados a escola, resolveu organizar um CPM (Círculo de Pais e Mestres).A tarefa não foi assim tão fácil.Na primeira reunião apareceram quatro pessoas.Alexandrina não desistiu.Na entrada e saída dos alunos parava no portão e quase pegava os pais pelo pescoço para fazer uma verdadeira evangelização com vistas à formação do tão necessário CPM. Nova data foi marcada para a reunião onde seriam formadas as chapas para eleição da diretoria do COM.
Para desânimo da pobre professora Alexandrina oito pais e dois professores compareceram ao encontro.Porém, um dos pais, com grande entusiasmo assumiu a liderança da reunião e quase no grito, pressionando outros pais, formaram uma chapa.E era a única chapa. Com grande esforço e utilizando-se do dia da entrega dos boletins, consumou-se a eleição e a vitória, é claro, da chapa única.
O presidente, senhor Arydolvino (“com y, por favor”) homem de boa e chata conversa, no outro dia deu início ao tramites legais para regularizar o COM junto aos órgãos competentes. E Arydolvino, com todo o entusiasmo passou a conviver junto com a direção, professores e alunos o dia-a-dia da escola.Na entrada dos alunos, lá estava ele junto com o coordenador de turno, fiscalizando.No recreio, lá estava ele orientando as atividades e fazendo a “segurança” dos alunos.O Arydolvino estava presente até na hora da distribuição da merenda “verificando” se os alunos comiam ou não.Só não participava das reuniões pedagógicas e administrativas devido a admoestações que sofrera por parte dos professores.
Apesar de tudo isto, ele tinha que ser suportado.Era Presidente do COM e em prol da escola, não havia dúvidas, trabalhava bastante.Havia conseguido material esportivo, de audiovisual, alimentos e verduras para complementar a merenda com doações de comerciantes da comunidade.Era chato e metido, mas conseguia o que queria em prol da escola. Entre umas mazelas e outras, a coisa ia andando.Aproximava-se o final do ano.Arydolvino queria fazer uma grande festividade de encerramento.Deveria ser uma atividade pedagógica-cultural fabulosa e marcante.
E daí para frente às atividades do presidente entraram em um ritmo frenético.Até nos planejamentos de final de ano, dos professores, ele queria dar o seu “pitaco”.Fazia contatos com comerciantes, industriais e políticos para arrecadar brindes, presentes, balas e doces para a festa de Natal. Tinha-se a nítida impressão que o Arydolvino estava à beira de um enfarto.Nas reuniões do CPM sugeria, aprovava e partia para a ação mesmo sem o aval dos outros membros da entidade. -Dona Diretora, já “tamos” com o pão e a salsicha, “prôs cachorro”.O bolo de Natal tá feito.Três padarias vão fazer cada uma um bolo, a gente “imenda” e “taí” o bolão! A Diretora mal absorvia uma informação e já vinha outra em atropelo. -Os “brindis já temos um pouco” e bala para gurizada não vai “falta”.Faz-se pacotinhos e pronto.Vamos “faze “ mais uns “pras emergência” e para os furões.
O planejamento das professoras era muito mais pedagógico do que festivo.Cada turma faria sua apresentação aos pais, que seriam convidados, e o encerramento seria entoar a tradicional “Noite Feliz” e depois haveria uma confraternização singela com comes e bebes.O mais importante seria a distribuição de roupas e alimentos, recolhidos pelos alunos, a uma instituição de caridade da comunidade escolhida através de uma votação. Mas o Arydolvino queria algo grandioso!E para arrematar sua programação informa a Diretora: _E tem mais, Dona Diretora.O Papai Noel, que serei eu, descerá de helicóptero no pátio da escola, jogando papel picado e balas para a gurizada.Só vamos fechar os portões pra festa ser só dos nossos alunos. No dia marcado para a festa o calor era insuportável.Mesmo não acreditando na programação do seu Arydolvino, tudo foi preparado.Local para o trono do Papai Noel, o bolo colocado em uma mesa enfeitada, as caixas com os brindes, com os doces e as balas.E todos os alunos foram organizados em filas para esperar o tal Papai Noel.
Para espanto de todos um helicóptero sobrevoa a escola jogando papel picado e com um vôo rasante caem pacotes de balas no pátio.Não houve quem segurasse aproximadamente 600 alunos.
Helicóptero pousa e seu Arydolvino vestido de Papai Noel desce da aeronave.É praticamente amarrotado pela massa de crianças fazendo pedidos, querendo toca-lo, dar um abraço e ganhar um beijinho. Quando o Papai Noel consegue sentar no seu trono o pavor toma conta daqueles que estavam auxiliando-o.
Pelos muros surge uma massa de crianças, jovens e adultos querendo um presente do velho Noel.Era uma correria.O Noel pingando de suor e já apavorado gritava:-Traz mais bala.Não me deixa sem bala! Os brindes me tomaram todos!
A diretora, branca como giz, em pânico bradava por sua vez: -Calma gente! Por favor, tragam mais pacotinhos de bala!Mais bala! E alguém responde, com tremendo terror: -O bolo não resistiu ao ataque!”.Os brindes evaporaram! E as balas estão terminando!”.
A diretora em total alucinação, suando de calor e de pavor esbraveja: -Chama a Brigada que vão matar o Papai Noel!
Autor: Renato Hirtz
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