Romildo era um dedicado supervisor da disciplina de Educação Física.Trabalhava numa equipe de supervisores de uma Coordenadoria de Educação do interior.Tinha um tamanho descomunal devido às práticas desportivas, principalmente no atletismo.Com quase 25 anos de dedicada carreira com excelentes e pesadíssimas aulas de Educação Física estava agora transmitindo aos seus pares suas experiências.
Era um pesadão e de uma meiguice sem igual.Vivia buscando novidades, técnicas e não poupava esforço para manter as escolas da região com estes conteúdos e com o necessário material esportivo.Buscava apoio daqui e dali e mantinha exaustivos contatos com a Secretaria de Educação para conseguir com que as escolas ficassem supridas com o material devido.
Durante a semana vivia com seus outros três colegas supervisores, da mesma disciplina, seja de ônibus, carro oficial ou mesmo de carona visitando as escolas, promovendo torneios na região e realizando acampamentos escolares de férias com alunos e professores. Mesmo com toda esta atividade era pesadão.Um verdadeiro atrapalhado devido à força descomunal promovida por seus músculos.Por mais que cuidasse, sempre causava algum estrago.Se ia abraçar alguém quase quebrava a pessoa ao meio.Se ia consertar alguma coisa...Não havia esperanças.Terminava quebrando outra. Suas mãos eram verdadeiros tijolos.
E por tudo isto, certa ocasião, chegou na sala do coordenador com a palanca da viatura na mão.
-Com licença senhor coordenador.Aconteceu um probleminha. O coordenador gelou, pois probleminha com o Romildo era sinônimo de problemão.Questionado o Romildo, sem jeito e com aquele sorriso angelical, tremendo as bochechas e girando a peça na mão diz:
-O motorista não veio e eu precisei usar a viatura.Não sei o que houve.Fui engatar a marcha e fiquei com a palanca na mão.
- Bom se o problema é este, fala com a chefe administrativa e pede uma autorização para levar a viatura para o conserto.Isto acontece.
-Mas não é só isto.Na hora que fui sair do carro o banco quebrou.
O coordenador já irritado aumenta o tom de voz e exclama:
-Manda o Zé mecânico arrumar também.
-Mas tem mais uma coisinha, diz Romildo sentindo o calor percorrer seu corpo e o suor escorrer por baixo da camisa.Quando o banco quebrou, o senhor sabe, eu tenho 130 quilos, o assoalho da viatura cedeu e abriu...ficou um baita buraco e fui literalmente ao chão.
-Chega! Manda arrumar tudo e não chega mais perto da viatura.Anda de ônibus ou caminhão, mas não pega mais a viatura!
O Romildo, muito encabulado, pede desculpas pelo ocorrido e sai da sala.Ao fechar a porta, como sempre, não mede a força com que puxa a porta e...um estrondo.A porta fecha com um baque tremendo.O Romildo olha para a secretária que iria entrar na sala e sorri envergonhado lhe entrega a maçaneta.
-Senhor coordenador abra a porta por dentro, por favor, que houve um probleminha!
Dias depois, o Romildo se preparava para ir a uma nova visita numa das escolas de um município pertencente à região da Coordenadoria.Iria ele mais três colegas.Inclusive ficariam por lá uns três dias, promovendo um evento esportivo.Bem cedo rumaram para o seu destino.
No meio do caminho pararam para fazer um lanche, pois tinham tomado café cedinho da manhã. O restaurante, na beira da estrada, era daqueles de encher os olhos de qualquer pessoa gulosa.Havia desde torresmo até torta de bolacha.Romildo começou a comer torresmo e parou na famosa “torta de mocotó”.Era uma receita quase secreta do dono do restaurante feita com creme do mocotó gelado ou coisa parecida.Não deixou de tomar um bom suco de laranja e de rebate um café preto ao final.Os colegas lembrando que não poderiam ficar ali por muito tempo foi o basta para a gulodice do Romildo.
A escola era bem modesta, daquelas tipicamente rural.A reunião com os professores, diretora e alguns alunos líderes de turma começou às 14 horas.O que o Romildo comeu no almoço, não vamos nem comentar.Foi coisa de assustar.Já iam 30 minutos de reunião resolvendo como seria o encontro esportivo, Romildo sente um calafrio, com aquele suor frio, acompanhando de uma cólica infernal.Parecia que a sua barriga estava invertendo de posição.
-Preciso ir ao banheiro, disse Romildo pálido que nem papel e derrubando a cadeira ao levantar.
-A casinha fica do lado de fora do prédio, pois os banheiros estão em reforma.São duas, mas não...
A diretora não terminou de falar a frase e o que se viu foi àquela montanha feita gente em desabalada carreira porta fora.
Em questão de segundos ouviu-se um estrondo. Todos correram para fora e viram o quadro da dor sem moldura.Uma das casinhas caída para trás, Romildo tentando sair de dentro, entalado com as calças nas mãos e todo borrado.
-Eu ia dizer que a primeira casinha não era para usar que estava com o alicerce podre!
A tarde passou e com ela Romildo muito envergonhado com um calção emprestado por um dos alunos,sentado quieto como nunca,olhando sua camisa,cuecas e calças secando numa cerca de arame enfarpado.
(RENATO HIRTZ)
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