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segunda-feira, 23 de maio de 2011

CAUSO: CAÇADORA DE BORBOLETAS PERDIDAS

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     Lá estávamos nós eufóricos para colocar em prática toda a teoria das aulas de Zoologia Animal obtidas no terceiro trimestre do Curso de Biologia. O professor extremamente exigente,com domínio fora do comum do conteúdo e de uma didática invejável havia marcado uma pesquisa de campo e coleta de material numa área de preservação natural localizada próximo a instituição de ensino. Feitos todos os preparativos e com um roteiro minucioso do que deveríamos observar, identificar e coletar .
     Entramos em um ônibus e nos dirigimos para lá.Éramos em torno de quarenta e poucos alunos com mochilas,redes para coletar borboletas e outros insetos,vidraria para guardar coletas e uma boa porção da bobice da juventude e do afã de obter o melhor material coleta de toda a turma. Lá chegando, não houve tempo de escutar as últimas palavras do professor alertando para os cuidados com o terreno e com os animais mais agressivos ou perigosos existentes no local.
     O objetivo estava muito bem definido: identificar,desenhar e descrever o maior número de espécies e coletar o maior número de espécimes possíveis mesmo que para isto houvesse uma verdadeira depredação animal no local.Era o ímpeto de mostrar que sabíamos e que éramos capazes de fazer uma excelente coleta para obter uma boa nota.   
      O quarteto era formado por três meninas e um rapaz que em grande alarido se dirigiam para um aglomerado de árvores, muito fechado e quase intransponível. Entre gritinhos e risadas sumiram em meio a vegetação e não conseguiram ouvir o final da frase do professor orientador,nem o reforço gritado pelo seu assistente: - Cuidado com... - Têm algumas... Não se contou cinco minutos e ouviram-se gritos e o farfalhar dos galhos das arvores, pássaros que alçavam vôo e a voz estridente do rapaz:
     - Corre, corre e não olha para trás!Não para, larga tudo! Os outros alunos que estavam por perto, mais o professor assistente que estava atendendo um grupo mais adiante correram na direção dos gritos e viram o quarteto sem fôlego saindo do mato em desabalada corrida, gritando e gesticulando:
     - Sai! Sai!
     Outra menina berrava:
     - Corre! Corre! E o que se viu atrás deles era uma espécie de nuvem negra, em forma de uma seta gorda, produzindo um zumbido nervoso...
     - Abelhas!
     E o último a chegar ao portão da reserva foi o professor com uma leve torção no joelho devido ao escorregão durante a maratona indesejada. Entre uma puxada de ar e outra o professor consegue pronunciar:
     -Eu avisei que naquele local havia várias colméias e que vocês deveriam adentrar com cuidado para não provocar as abelhas, mas acho que não me ouviram. E o rapaz com os um vitorioso brilho nos olhos olha para o professor, aproxima-se e mostra um vidro:
     - O susto foi grande, mas não perdi a viagem. Consegui capturar uma abelha....um inseto himenóptero, apídeo e/ou meliponídeos !
     O professor com a face de um rubor indescritível e produzindo um sibilo alto vociferou a um palmo do rosto do aluno:
     - É... é...conseguiste um exemplar ? E pela burrice de vocês consegui dois ferrões de abelha aqui no meu pescoço!
     O quarteto saiu de fininho olhando por onde pisava. E a atividade continuou a pleno vapor, após comentários nervosos sobre o incidente.
     Cassandra era uma aluna dedicada e que se destacava por dois motivos na turma. Primeiro que obtinha excelentes notas nos trabalhos e provas e por ter um porte avantajado.Ela era alta e....bem fortinha.Tinha uma predileção estranha pela palavra lepidóptero que repetia sempre que podia encaixar na sua conversa.Borboletas era a sua predileção.E no trabalho que se desenvolvia na reserva ambiental o que mais ela procurava para observar,descrever,desenhar e coletar eram as lepidópteras...as benditas borboletas. E não era difícil vê-la com sua rede correndo ou se esgueirando entre os galhos na captura de um espécime.
     Quase no final da tarde Cassandra enxerga uma borboleta branca com desenhos em vermelho e preto. Um espécime lindíssimo.Ao som de gritinhos sai em desabalada correria atrás do animal com a rede de coleta.Todos ficam na expectativa da captura.A borboleta voa alto campo afora parecendo perceber aquele gigante na sua caça.As duas se afastam do grupo.Uma batendo asas ao sabor do vento e a outra imprimindo maior velocidade na corrida com o pescoço esticado e olhos fixos na presa.
     Neste instante o professor começa a passos largos acompanhar a trajetória da aluna. Segundos depois ele já corre com certa dificuldade pelo tombo ocasionado pelo incidente anterior.Os colegas começaram a ir atrás do professor.Já era uma corrida em grupo.Aproximam-se de um local com uma vegetação mais alta.Um capim muito verde que dava um toque especial a paisagem.O professor gesticula e grita:
     - Para! Cuidado com...
     E todos viram Cassandra afundar no campo até os ombros.
     -Ai! Socorro! -
     O professor se aproxima quase sem ar e consegue dizer:
     - Cuidado com o lodaçal!
     E Cassandra já sem sua rede de captura e em pleno desespero gruda-se nas pernas do professor que escorrega e se junta à aluna lançando lodo para todos os lados. Agora era um dueto que pedia ajuda. Os alunos conseguiram retirar o professor com certa dificuldade do lodaçal, mas Cassandra com todo o seu tamanho e peso foi impossível.
     Todas as táticas foram utilizadas.Só restou chamar os caseiros do local que vieram com um minitrator e puxaram a caçadora de borboletas para fora do atoleiro.
     A tarde caía, era inverno.
     Professor e aluna retornaram tiritando de frio,em pé no ônibus,para a Universidade.Fora a tímida gozação dos colegas,pela presença do professor e seu assistente ficou a frustração de Cassandra que não conseguiu seu espécime mais raro e ficou até o final do curso com o apelido de Caçadora da Borboletas Perdidas.

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