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terça-feira, 17 de abril de 2012

Sobre o muro


        Acabei de ler o livro Davi Emanuel contra o Apocalipse, de Lucas Steinmetz. Em determinada passagem do livro o demônio diz que aquele que costuma ficar em cima do muro ao longo de sua vida já está ao seu lado.
            Esta afirmação me levou a relembrar algo que li, não lembro bem aonde. Era uma fábula ou lenda que um determinado autor escreveu para explicar o sofrimento de uma bondosa senhora que após a sua morte foi levada ao limbo ou purgatório. Para ela era inexplicável a sua presença naquele local.Passados não sabia quanto tempo,veio ao seu encontro um mentor espiritual e ela,as raias da indignação,o questionou.
            Com uma mágoa incontrolável, queria encontrar a razão pela qual após 86 anos no plano terreno, sendo uma excelente filha, impecável esposa e sem ter ao menos desejado um mal sequer aos seus semelhantes, ali estava. Era um paradoxo.Nunca cometeu um erro sequer por livre arbítrio.Sempre cumpriu com os preceitos cristãos.Raramente faltava ao sacrifício dominical,a missa.Nunca levantou a voz contra seus orientadores espirituais,mesmo que soubesse que eles muitas vezes iludiam os irmãos com seus discursos apocalípticos para tirar proveito do temor ao Pai.Jamais havia denunciado alguém por atos ilícitos.Muitas vezes procrastinou ações para não ferir este ou aquele. Enfim, nunca cometeu mal algum e estava ali num espaço de tempo que a solidão doía e o castigo inexplicável era demais. Deus ? Quem era criatura que impunha tal provação a uma filha dedicada que não deixava de orar para todos os santos e principalmente para ele.
            O Anjo, assim vamos chamá-lo, olhou-a com um misto de compaixão e espanto assim ficando por certo tempo. Ela com o nível de angustia acima do suportável conteve-se ao máximo,enquanto lágrimas carregadas de dor caiam em seu colo.Com um gesto lento e doce a entidade divina agarrou a sua mão e começou a falar com firmeza.
            Chamou-a de filha e disse que a razão dela estar naquela situação justificava-se exatamente em tudo o que ela havia dito. O que ela tinha feito em benefício de seus semelhantes ? Perdeu muito tempo tentando ficar em pé sobre o muro, com medo de errar. E esta posição foi o grande erro de sua vida.Nada fez para auxiliar,para corrigir,para modificar e desta forma não havia exercido a maior missão que o Pai havia incumbido aos seus filhos.Ela omitiu-se da correção de erros,de lutar pela justiça e apenas cumprir com preceitos dogmáticos de sua religião não acrescentava nada em sua vida.O Pai quer disponibilidade,amor fraternal e ação.E ela havia apenas se preocupado consigo mesmo.Ali estava para aprender  que a missão do ser humano lá na Terra era muito mais de doação do que armazenar dádivas divinas para si mesmo.Nunca havia feito mal a ninguém,porém muito pouco havia feito em prol de seus irmãos.
            Se houvesse um final do mundo neste momento, o purgatório estaria lotado de pessoas que vivem olhando seu próprio umbigo e que proclamam serem boazinhas. Superlotação ocorreria no inferno por aqueles que sempre estão com discursos cheios de boas intenções e embolsam dádivas divinas para agradar ao Papai do Céu.
            Quanto a mim... vocês me encontrariam num destes dois lugares,pois missão difícil de cumprir nesta vida é “amar o próximo como a si mesmo” ao menos por vinte quatro horas,uma vez por semana.

(Renato Hirtz,abril 2012)

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