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quinta-feira, 5 de julho de 2012

Fiorela e a queda




            Uma mulher vistosa. Extremamente objetiva e excelente  no comando de uma equipe de trabalho. Sua voz rompia o silêncio dos corredores e salas da repartição pública onde trabalhava. Sempre com um sorriso nos lábios possuía uma habilidade no trato dos problemas mais simples aos mais complexos. Era uma fonte de energia e transferia  com facilidade esta capacidade aos seus comandados.
            Não havia trabalho ou problema que lhe causasse algum desconforto. Vestida com elegância, sempre maquilada e sobre seus sapatos de saltos alto somava-se a uma boa varrida numa faxina em uma sala até recepcionar com todo o cerimonial devido uma autoridade que vinha tratar assuntos profissionais. Sempre possuía uma solução na ponta da língua. Detentora de raciocínio rápido vislumbrava sempre uma alternativa de solução para algum entrave que surgisse.
            Não se descuidava de sua aparência. Social ou despojadamente  mantinha uma elegância nata. Sempre nas quartas-feiras, por força de suas horas extras, tirava um tempinho para ir ao salão de beleza para tratar seus cabelos, pele e  principalmente as unhas. Deixava toda a rotina de trabalho direcionada de tal forma que nada ficasse pendente na sua ausência.Verificava a situação de cada setor sob sua responsabilidade. Nada podia parar por estar ausente. Depois de todo um ritual de orientações e repetidas verificações de que tudo andaria em nível de excelência partia para sua sessão de embelezamento.
            Naquela tarde alguns problemas deveriam ser solucionados ao final do expediente e ela deveria retornar. Nada podia sair fora de seu conhecimento e comando. Dispensou o uso do carro. Foi lépida e faceira caminhando até o instituo de beleza. Era assim que às vezes chamava. Como já tinha uma certa idade, na sua época esta era a denominação dos atuais salões de beleza. Uma caminhada de ida e volta lhe faria bem. Entre muitos cumprimentos aos conhecidos e alguns admiradores chegou ao seu destino.
            Entre lavar, tratar e mudar a tonalidade da cor dos cabelos conversava alegremente com suas conhecidas. Ali era uma espécie de central de notícias novas e oportunidade de relembrar casos passados. Fazer as unhas das mãos e dos pés era a próxima etapa separada por um paradisíaco cafezinho. Era um momento seu. Coisa que beirava a magia de histórias de princesas. Tudo pronto e satisfeita com o resultado é hora de retornar ao mundo real. Despedidas feitas,sai em direção ao prédio onde trabalha.
            Sua sensação era de que todos na rua sabiam que ela havia saído de um instituto de beleza. Novamente entre acenos e expressões de saudações aos que a conheciam cuidava para não roçar as mãos em nada. Numa sacola iam seus sapatos. Nos pés um chinelo de dedo para não estragar o esmalte. Deveria ficar bem seco para voltar a calçar seus habituais sapatos de salto alto. A cor do esmalte contrastava com a cor de sua pele. Ficará muito bonito.
            Atravessando uma rua e outra, passando pelos transeuntes com cuidado para não pisarem em seus pés chegou a uma parada de ônibus. Ali se aglomeravam muitas pessoas na expectativa da chegada dos coletivos. A calçada ocupada no seu todo impedia a sua passagem. Desviou para o leito da rua e o bendito chinelo de dedo solta uma das tiras. O desequilíbrio foi inevitável. O tropeço mais ainda. E diante de uma pequena multidão, Fiorela, desaba. Foi ao chão por inteira.
            Socorrida por alguns cidadãos prestativos ergueu-se tentando manter sua altivez e sorriso machucado e embaçado pelo tombo. Agradecida segue quase em disparada na direção do local onde trabalhava. Sacola rasgada,chinelos na mão,joelhos esfolados e cabelo desfeito era o verdadeiro quadro da dor e sem a moldura. Poderia ter quebrado um dos pés ou uma das mãos.Quem sabe um braço. Imagina se tivesse contundido o rosto.         
            Sua chegada na repartição foi um alvoroço. Sua situação gerou as mais diversas reações. Das tradicionais expressões de espanto até risos contidos  giravam em torno da chefe. Entre encontrar paninhos e água para lavar os machucados, escova para reparar o penteado e palavras de consolo ouve-se as primeiras palavras de Fiorela.
            - Calma gente. Calma.Vamos manter a calma. Foi só um susto. Ainda bem que consegui salvar o esmalte das unhas das mãos e pés ! Ainda bem. Nenhum arranhão no esmalte ! O cabelo se dá um jeito. Vamos voltar ao trabalho.
            E lá se foram todos de volta a rotina.


(Renato Hirtz – 2012 – Lembrança de um fato real)
           
           
           

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