Lendo estes dias sobre gestão
escolar veio a imagem de minha primeira diretora. A escola ainda existe em um
município da grande Porto Alegre.Vão-se trinta e tantos anos,quando lá cheguei
recém formado cheio de sonhos e com uma sede de ensinar e aprender. Ainda
estava cursando minha segunda faculdade e me desdobrava entre lecionar em uma
escola particular, esta que era estadual e assistir aulas à noite. Nada de
preocupação com o cansaço. O salário de professor ainda valia o esforço bem
como a profissão era valorizada.
Meu
contato com a diretora desta “escola do interior” foi de respeito e admiração. Sua
altivez não se dava por sua estrutura física e sim pela sua postura como
educadora e administrativa. Haviam prós e contra sua forma de administrar. Fazia
valer o que estava escrito nas orientações contidas na Lei. Chamava a atenção, e
também era motivo de certas críticas feitas a meia boca e aos pés de ouvidos a sua
rotina. Ao chegar na escola recebia no portão junto com o vice dos turnos e cumprimentava
os alunos de forma solene chamando-os pelo nome. Um passar de olhos e já
detectava se havia algum problema com este ou aquele. Um sorriso aos pais que
conduziam seus filhos até lá e o portão era fechado. Conversa rápida com seus
vices-diretores e lá se ia a cozinha. Saboreando um café mantinha uma boa
conversa com as funcionárias. Saía da li e dava mais um tempo de prosa com o
pessoal da secretaria. No caminho controlava as salas de aula. Já era hora do
recreio e lá se ia a pequena sala dos professores. Conversava com um e com
outro. Algum aviso de urgência era dado e se dirigia a sua sala. No turno da
tarde realizava a mesma rotina, com um porém. Não se dirigia a sua sala. Saia
para comparecer aos órgãos competentes.
A
escola ia muito bem se destacando tanto no aproveitamento, na organização, na
integração da comunidade escolar, nos recursos e até um novo prédio foi construído
em sua gestão. A intimidade profissional com aquela diretora foi aumentando com
o passar de um tempo. Certa ocasião, num período vago surgiu uma oportunidade
informal de conversar mais abertamente com ela. Questionei, com certo receio, a
sua rotina na escola. Ali recebi uma lição. Respondeu-me que um administrador
escolar antes de qualquer coisa deveria exercer o papel político escolar. Ao
receber os alunos e pais tinha a oportunidade de dialogar com eles. Ao se
dirigir ao refeitório e conversar com as funcionárias tomava ciência das
necessidades diárias de alunos e professores. Quando chegava a secretária obtinha
conhecimento administrativo e na sala dos professores a solução de pequenos
problemas, junto com sua supervisora, numa conversa informal. Era desta forma
que se inteirava de sua escola, resolvia situações que podiam se avolumar com o
passar do tempo. Na sua sala tinha a oportunidade de programar reuniões, planejar
atividades e atender casos mais complexos. A tarde, fazia a gestão política
indo buscar, nos órgãos competentes, recursos para satisfazer as necessidades
do estabelecimento de ensino do qual era diretora. Quando não conseguia seus
objetivos nesta área buscava parcerias com a iniciativa privada. Meus vices se
encarregam de conduzir a escola e eu de manter e aprimorar as condições para
que todo o trabalho seja levado a termo com produtividade.
Aprendi
com ela que um gestor escolar não necessita ser aquela figura austera e presencial.
A austeridade afasta e sua convivência amiúde com a comunidade escolar a
vulgariza. Ele tem que determinar competências e proporcionar que todo o
processo compartilhado que idealizou (em conjunto com sua comunidade escolar)
chegue a termo e de modo produtivo. Confiança e cobrança de responsabilidades
com sua equipe e valorização de cada ação em separado ou no seu conjunto é ponto
indiscutível. Isto gera motivação para que se aprimore cada vez mais as ações
da prática pedagógica. Aqui lembro de um outro gestor administrativo que
conheci. Ele criou uma forma de agradecer e motivar sua equipe. Através de uma
votação entre a comunidade escolar, na semana do professor, os eleitos como educadores,
pais e alunos destaques recebiam um singelo diploma de honra por seus méritos. Uma
mera atitude que servia de motivação e integração entre todos da comunidade
escolar. Vi muitos colegas refletindo suas ações com esta atividade. Propostas
de mudanças eram discutidas para que no ano seguinte houvesse uma concorrência
mais acirrada sempre com o objetivo de melhoria da qualidade da aprendizagem.
O
gestor escolar deve ser um buscador de soluções, um integrador, um organizador,
aquele que propõe, aceita mudanças, confia e determina ações de modo que toda a
comunidade escolar reflita sobre a prática pedagógica. Indica competências para
a execução do trabalho escolar e define o papel que cada um tem para que a
escola volte a ser um lugar não só de saber, mas também de crescimento social,
pessoal e de cidadania plena. Enfim, ele é um político educacional.
(Renato Hirtz – junho de 2012).
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