Gestar
Revendo “meus
guardados” encontrei todo o material de um projeto que desenvolvi em uma escola
que trabalhei, em Porto
Alegre.
Sou
adepto convicto da educação por projetos e por compartilhamento de informações
e experiências. Este tipo de atividade agrega valor ao conhecimento e
desenvolve a capacidade do indivíduo de saber transitar de forma mais adequada
nas suas relações interdisciplinares.
Dentro de minha escola, além de
exercer minhas funções como professor, e por uma série de acontecimentos particulares
me propus a ir mais além. Contribuir com algo mais. Uma boa parte de nossos
alunos apresentava problemas característicos da adolescência ou da idade madura
que prejudicavam sua autoestima,principalmente. O Serviço de Orientação
Educacional com um único profissional para atender a mais de mil alunos não
tinha outra forma do que ater-se aos casos mais complicados. Saí em busca de
material que me subsidiasse para colocar em prática um projeto que auxiliasse
nossos alunos. Adaptei várias técnicas de grupos de autoajuda e idealizei o que
chamei de Gestar (Grupo de Estudo e AutoAjuda Renovação). Com apoio da Direção
da Escola,numa das salas de
aula,iniciamos as atividades do grupo.
No início, ainda sem
credibilidade, com um grupo reduzido, mas assíduo, começamos as reuniões. Ao
longo de dois anos de existência o “grupo” se manteve forte. Com uma
assiduidade variável ( dependendo do estado de espírito de cada um ) obteve
resultados muito positivos direta ou indiretamente. Notoriamente a mudança de
comportamento dos participantes diante de seus problemas do dia-a-dia
estabeleceu a certeza de que esta atividade era produtiva.
Com o objetivo de oportunizar e
promover em cada participante a autoestima, a autovalorização, a descoberta de
suas potencialidades e de suas falhas como indivíduo, com a idéia firme de que
devemos “viver só por hoje realizando tudo com a maior perfeição como se tudo
isto dependesse a continuidade da minha vida amanhã.”. Foi estabelecido um
código de postura rígido (para os participantes e visitantes) e procedimentos
para realizar as reuniões. O “grupo” se encontrava uma vez por semana, numa
atividade que durava não mais de duas horas de atividade. Ao final de cada
reunião sem eles sentirem criava-se numa
verdadeira integração familiar. Um passava a tutelar as ações do outro ao longo
da semana.
Já encontrei muito deles.
Hoje,com família constituída e profissão definida seguem sua vida e guardam na
memória nossas reuniões. Isto vem mostrar que muito mais do que grandes
transformações na educação, radicais mudanças de currículo e coisas do gênero
não trazem efeitos tão desejados. O aluno do ensino médio,principalmente, quer
aprender. Ele quer aprender a viver, a resolver os problemas que lhe incomodam,
a livrar-se de suas angústias e ter entendimento do seu momento de vida.
Escolarizar se torna muito mais fácil quando tudo isto fica sob controle do
jovem. Nós somos assim, mesmo com toda a experiência acumulada.
É muito difícil trabalhar com o
aluno, até mesmo de nível superior que está numa transição tentando adquirir
uma identidade seja como pessoa ou como profissional. O processo educacional
que deveria ser iniciado em casa, desde o berço, chega a escola sem o
embasamento familiar. Há todo um contexto onde família, escola, educador e educando
se vêem envolvidos. É o famoso efeito “zapping”. Tudo deve ser muito rápido.
Todos os processos são executados de forma imediatista e simultânea sem
detalhadas explicações, sem muita orientação e com pouca conversa. O que
importa é o resultado e não interessa quem gerará este resultado. Como
conseqüência a instituição educacional fica diante de indivíduos com educação e
cultura (não me refiro a escolarização) aquém do exigido para o nível de ensino que estivermos
considerando.(Renato Hirtz – maio 2012).
P.S.: Grande abraço à Andréia
Tais Fonseca, Alexandre Brandão, Anahy de Vargas Ribeiro, Fábio Augusto Alves
Barbosa, Fernanda Glinka, Márcia Greff Demétrio, Mirele Rosa dos Quadros,
Vanderley Silva Rodrigues, Vanessa Casanova Silveira, Vanessa de Souza,
Vinícius dos Santos Estima. Este grupo ajudou a levar em frente o projeto acima
descrito.
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