Com o passar do tempo muitas
coisas boas que ocorriam ao longo das atividades escolares foram se perdendo. Se
hoje dizemos que a escola tem autonomia administrativa-pedagógia para deliberar
sobre seus rumos, porém antes havia mais opções de projetos para serem desenvolvidos.
Os governos da época proporcionavam oportunidades para os professores se
atualizarem e implementavam projetos interessantes para serem desencadeados com
alunos e que produziam relevantes resultados.
Lembro
que havia períodos de atualização para professores. Havia, na minha área de atuação,
por exemplo, os Programas de Saúde. Profissionais da área ao longo de uma
semana ministravam os encontros. Outro era o de Prevenção ao Uso e Combate as
Drogas, Prevenção de Acidentes e Primeiros Socorros na Escola. Outros tantos
que eu e meus colegas tivemos a oportunidade de realizar com profissionais
especializados. Por outro lado, as Feiras de Ciências, as Patrulhas do Verde, as
Hortas Escolares. Nas outras áreas do ensino acontecia o mesmo. O Clube
Literário, Clube de Línguas Estrangeiras e muitos outros. Atividades nas quais
os alunos se viam envolvidos e os governos davam relativo incentivo.
Em
uma das escolas que trabalhei tínhamos a Semana Cultural onde os estudantes
apresentavam trabalhos livres sobre os conteúdos desenvolvidos e figuras
ilustres eram convidadas a participarem. A Feira do Livro era uma semana
badalada na escola Os alunos trabalhavam autores, entravam em contato com
editoras, com escritores e tudo isto contribuía para desenvolver o senso de iniciativa
do aluno (o que os tornavam proativos) e proporcionar educação e cultura, além
de uma boa escolarização. Em uma Coordenadoria de Educação onde exerci função
pedagógica conseguimos, por 3 anos consecutivos, manter um Festival Estudantil
da Canção Crioula buscando parcerias com iniciativas privadas e mantenedora. Conseguimos
reunir na última mais de uma centena de inscrições de alunos da costa doce e
região carbonífera. Foi inesquecível ver alunos realizando lidas campeiras e
apresentando suas canções próprias. Foi um aprendizado extremamente produtivo
em todos os sentidos. Poderia ficar aqui relatando dezenas de atividades com as
quais eu e tanto outro profissional da educação teve a oportunidade de participar.
Estou
relatando tudo isto para dizer que nós professores fomos esquecidos pelos governos.
Não vou citar nenhum, pois este não é o objetivo a que me proponho. Tínhamos 44
horas semanais onde 4 horas nós podíamos nos dedicar a uma atualização, a
elaborar uma atividade, criar um projeto ou narrar aos nossos pares
experiências de erros e acertos que tínhamos obtido. Veio depois às 40 horas, das
quais 4 horas eram de estudos. Nós nos encontrávamos, nem que fosse para “falar
da vida dos alunos”. Além da escolarização, nossa preocupação era com a
educação do aluno. Fomos carregando nosso fardo de responsabilidades com as
quais fazíamos parcerias. E viramos titulares destas responsabilidades. E quanto
mais nosso fardo se abarrotava de responsabilidades que eram dos pais, da
sociedade, da mantenedora ou dos governos mais sozinhos e esquecidos ficávamos.
Foram nos impondo de forma maquiavélica a titularidade destas novas funções. E
chegamos ao ponto de trabalhar mais de 40 horas, não em uma só escola e sim num
ir e vir entre várias escolas para garantir a sobrevivência na carreira. Somos
teimosos, solitários e esquecidos como profissionais que gostam de ler, de
estudar, de saber mais, de ir além de seus limites. Quem nos oportuniza isto?
Quem deveria nos oportunizar isto.
Hoje
nos imputam a culpa de todas as mazelas na educação. A visão de governo, da
comunidade e dos alunos é uma linguagem binária. Ou o professor é acomodado e
finge que ensina, ou ele é um general que exige demasiadamente do aluno. Os
pais na sua omissão vêem nos professores a salvação ou a derrocada educacional
do filho. O governo na sua visão míope nos vê como inimigos mortais ou como
chorões sempre de chapéu na mão querendo um “aumentozinho”. E não é nada disso.
Não há “zona
de conforto” em educação.
Os tempos mudaram, a tecnologia avançou, a sociedade tem
novas prioridades, o mundo está exigindo uma nova postura de todos. Educação se
faz de forma compartilhada. Ninguém sozinho faz Educação. É necessária uma nova
visão de professor. Não uma visão de dez décadas atrás. Não mais de um
indivíduo vocacionado. Vocacionado também, mas que necessita ser tratado como
profissional da educação e para tal não pode sobreviver apenas. É inviável o
professor “táxi” que roda quilômetros de um estabelecimento de ensino para
outro para somar no final do mês um salário de cama-mesa-banho. E
consequentemente não tem tempo, muitas vezes para ler um jornal. Vejam os novos
conceitos de administração de recursos humanos. Um deles é proporcionar ao seu
empregado oportunidades de desenvolvimento de sua capacidade de exercer a sua
função. Se isto não acontece por que não estabelecer um salário compensador
onde o educador possa desempenhar a sua profissão com dedicação exclusiva em
uma determinada escola. Desta forma terá tempo para aprimorar seu conhecimento
e técnicas educacionais e desfrutar de uma vida sócio-cultural compatível com a
importância de seu papel no contexto social. Com isto ganha a educação, o
alunado e a sociedade.
(Renato Hirtz – maio 2012)
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