Na Semana passada, minha filha participou das atividades
de encerramento de um projeto na sua escola pública. Sempre que posso compareço
ao dia da apresentação das conclusões destas atividades. Primeiro para
prestigiá-la juntamente com seus colegas e, em segundo, por que defendo que a escolarização,
por conseqüência a educação e a cultura são muito bem trabalhadas ao longo de
todo este tipo de processo.
Começa que os alunos são desafiados a construir um
conhecimento diferenciado mediado pelo grupo de professores que utilizam seus
conhecimentos para orientar os grupos participantes. A busca de informações
seja pela consulta bibliográfica, por um processo de pesquisa ou com a
intermediação de profissionais que não participam da comunidade escolar
enriquecem o trabalho final. A movimentação seja dentro da sala de aula, nos
laboratórios de informática, biblioteca e outros órgãos sejam públicos ou
privados descaracterizam aquela aprendizagem monótona do cotidiano escolar. Por
fim, os pais (lamento que sejam ainda em pequeno número) participam ou ao menos
tomam conhecimento do que o estabelecimento de ensino esta propondo. Há um
resultado muito produtivo nesta caminhada.
Quando a escola trabalha com projetos integradores,
multidisciplinares ou como queiram intitular, os educandos em sua totalidade e
em intensidades diferentes ou não participam. Eles identificam os fatos a serem
tratados, levantam problemas, elaboram hipóteses, partem para a busca de
respostas (montagem e experimentação de idéias). Finalizam com argumentação
sólida a apresentação final (conclusões) dos trabalhos de grupo. Na realidade
estão colocando em prática todos os passos da metodologia científica. Esta
metodologia não pode ficar alienada de nenhum processo nas ciências, sejam elas
humanas, científicas, ou sociais. Não há assunto que a geografia fique colocada
em um segundo plano. Vivemos num meio geográfico e aí entra a biologia
entendendo todas as relações entre os seres vivos deste meio geográfico. E tudo
isto existe por que se realizam fenômenos físicos e químicos que interferem
nesta distribuição geográfica. Isto tudo para ser entendido depende da
interpretação de fatos e eles devem ser relatados de formalmente através do
conhecimento da Língua Portuguesa. Estas relações ocorrem através de uma linha de tempo, facilmente
explicada pela História que pode narrar os aspectos sociológicos, filosóficos e
religiosos de um conhecimento que o aluno está adquirindo. E tudo isto deve ser
colocado matematicamente correto seja através de gráficos ou estatísticas que
proporcionarão um entendimento proporcionalmente eqüitativo sobre tudo o que o
aluno aprendeu até então. E toda esta aprendizagem pode ser transmitida aos
colegas, ou quem sabe publicado num blog em uma língua estrangeira que pode ser
o Inglês ou Espanhol.
Tudo isto dá trabalho e foge ao padrão de ensino
estipulado pelo sistema ideológico e político que está vigente no momento ou
vem que vem subsistindo através dos tempos. É a relação arcaica entre Poder e
Educação. Agora, se a escola tiver bem presente sua filosofia educacional, em
que tipo de sociedade está inserido, o que esta sociedade quer de sua escola, os
recursos comerciais e empresariais que podem absorver seus educandos e
auxilia-los na aquisição de conhecimento e principalmente o que a comunidade
escolar espera desta escola o discurso para trabalhar sistematicamente com este
tipo de atividade se torna irrefutável. Não que se fuja aos conteúdos
programáticos, mas eles podem render muito mais em prol do alunado.
Outro aspecto que vejo de importância são as integrações
entre escolas. Estes dias tomei conhecimento, com satisfação, que a várias
escolas aqui de nossa regional estão trabalhando com “conexões” entre escolas.
Lembrei quando trabalhava em uma escola particular onde os alunos, através de projetos,
convidavam outras escolas para participarem das apresentações que se
transformavam em verdadeiros seminários. Da música a matemática os alunos se
esmeravam para mostrarem seus conhecimentos aos colegas. Ultrapassavam muitas
vezes suas limitações e alunos considerados “problema” ou medianos descobriam
potencialidades adormecidas. Além da construção de conhecimento, a cultura crescia
nos participantes que conviviam durante um turno ou dois com as diferenças
entre seus pares. Outro fator era o ressurgimento do orgulho por sua escola, instância
até então relegada a um segundo plano. Até hoje encontro alunos que recordam
dos sábados de integração cultural e falam com orgulho de seus desempenhos
naquelas atividades.
Alguns aspectos são importantes nesta caminhada. A
participação do professor é importante como mediador de todas as funções de
preparação, construção e finalização de um projeto. Esta comunhão entre
professor e aluno provoca uma aproximação salutar e ambos passam a se conhecer
não só como mestre e aprendiz, mas como pessoas humanas que aprendem a conviver
cada um com sua bagagem de experiências. Atiçar o aluno a buscar sempre mais e
atingir níveis de produtividade maior daquela que ele está acostumado apresentar.
Provocar o aluno a sonhar com um resultado palpável e que ele possa alcançar. Torná-lo
insatisfeito com procedimentos fáceis e ativar sua capacidade de pesquisar, ir
atrás e com curiosidade. Despertar no aluno o rigorismo pelas informações a
serem transmitidas e sua capacidade crítica pelo que está produzindo. Por fim, tanto
o professor como o aluno pode exercer seu papel político nas suas relações e
nas relações com seus pares.
Cabe
a escola como um todo, nos dias de hoje e com todas as dificuldades que
circundam o ato de educar e ensinar, um grande desafio. Sair da histórica
mesmice e ajudar, realmente o aluno a construir um sentido para sua vida. E
nada melhor do que aprender compartilhando todas as relações e desafios que irá
encontrar fora dos muros escolares. E como diz Paulo Freire “Ensinar
e aprender têm que ver com o esforço metodicamente crítico do professor de
desvelar a compreensão de algo e com o empenho igualmente crítico do aluno de
ir entrando
como sujeito em aprendizagem, no processo de desvelamento que o
professor ou professora deve deflagrar. (Freire, 1996, p.134).
(Renato
Hirtz – maio 2012)
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