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quinta-feira, 19 de julho de 2012

Falando em tablets



            E agora? A tecnologia invade a sala de aula e nós professores estamos preparados para toda esta transformação? Estes novos instrumentos tecnológicos de aquisição de conhecimento irão competir ou até mesmo substituir o professor? E aqueles que dizem aceitar tudo isto realmente estão inovando ou transferindo para o novo toda uma velha e tradicional didática que vem se arrastando e sendo imposta travestida de inovadora?
            Já passei por várias experiências vivendo a fantasia da inovação digital em sala de aula. O professor leva seus alunos para a sala de informática e através de uma apresentação feita grotescamente num aplicativo repete aquilo que está escrito nos livros ou se vai mais além junta algumas fotos e trechos de textos buscados na internet. É a transferência daquilo que está no velho papel para a digitalização ou digitação. Não há criatividade. Há certos encontros e seminários que assistimos durante duas ou mais horas um palestrante lendo fragmentos de textos sobre determinado assunto que são projetados. As palestras ou aulas expositivas dadas por nós, professores,datam dos anos de 1800 e de lá para cá pouca coisa mudou. Eu mesmo fui graduado para ser palestrante em sala de aula. O trabalho em grupo nos anos setenta era questionado pelos gestores educacionais como uma atividade pouco confiável e de muita conversa. Uma atividade onde até os pais questionavam sua validade, pois todo o trabalho era compartilhado entre os agrupados.
            Entre estes e outros tantos exemplos e questionamentos que se pode fazer sobre o nosso tradicional sistema de educação chega às escolas os tablets. Uma ferramenta de recursos imediatos para compartilhamento de informações e formação de conhecimento do indivíduo.O que preocupa é como vamos usar este recurso. Não podemos cair na armadilha de determinar aquilo que o aluno vai aprender. Até hoje somos levados a ensinar o que precisa ser ensinado, até por que há uma confusão entre educar e escolarizar. A educação é um todo e não inicia na escola. Nascemos e durante nossa vida somos educados. Os pais iniciam o processo educacional. É com eles que a criança aprende a conviver com a ética, etiqueta, responsabilidade, valores e sentimentos. Aprende a ser curioso e gostar de descobrir e entender suas descobertas, desta forma desenvolve o raciocínio. Junto aos pais e parentes convive com permissões e proibições desenvolvendo a capacidade de tratar com situações conflitantes resolvendo politicamente situações problemáticas. Gostar da leitura, da escrita, da arte e da música começa em casa. O problema é que se estigmatizou que famílias de baixa renda não têm a capacidade de educar. Há muito tempo o processo tornou-se elitista. Só era educado quem nascia em berço privilegiado.
            Quando a criança chega à escola com uma bagagem de experiências extremamente diversificada parece que tudo deve ser ignorado. Formata-se o aluno dentro de um padrão determinado pelo sistema de interesses (longe de dizer governos, teóricos ou coisa parecida) da elite que determina o que é uma boa e má educação. Conflitos surgem e os alunos são divididos em mal e bem educados. Suportáveis e insuportáveis. Adequados e inadequados. Estes jovens se não encontram professores transformadores (prefiro o termo transformados) que identificam nos alunos suas habilidades, motivando e encaminhando o desenvolvimento delas, hoje e daqui para frente, será um mal educado (na visão daqueles que determinam aquilo a ser ensinado e aprendido).
           
Explico melhor. Um indivíduo que desenvolve cálculos trigonométricos com habilidade e outro que  consegue facilmente realizar  operações bancárias  são  diferentes ? Quem é o mais educado? Cada um traz consigo aptidões diferentes. Em poucas escolas ainda estas diferenças (prefiro o termo aptidões) são consideradas. Há um padrão convencional de bom e mau aluno por que há um padrão de escolarização e um conceito elitista de educação. Já assisti reuniões em escolas, onde um representante da área médica tinha quinze minutos para falar sobre sua profissão. Um pai cuja profissão era técnico em design gráfico, ou como foi anunciado gráfico,cinco minutos. Quem era o mais educado e quem tinha mais escolarização? Queiramos ou não há uma elitização do saber humano.
            Neste sentido ainda aguardo com expectativa a forma como serão inseridos no processo de ensino os recursos tecnológicos, entre eles os tablets. Ainda bem que há professores buscadores que usam e promovem de forma pedagogicamente aberta a utilização da tecnologia. Já vi projetos na área da Literatura e Língua Portuguesa usando o hipertexto para analisar a literatura brasileira onde todos os alunos contribuíram na confecção da análise de várias obras. Na matemática, professores usam as redes sociais para que haja troca de informações para a solução de problemas. É um caminho a construção do conhecimento de forma compartilhada respeitando as habilidades e interesses extracurriculares de cada um. Neste tipo de atividade já ouvi de aluno que “ter conhecimento em Geografia era essencial para desenvolver certo projeto...”.Ninguém obrigou o menino estudar geografia, mas de uma forma ou de outra foi levado a conclusão de que havia a necessidade.
            A educação deve continuar a ser um processo onde um indivíduo aprende a descobrir-se e, ao fazê-lo, procurar melhorar a condição humana. Para o nosso futuro, é importante que nós ensinássemos nossas crianças que a leitura e o aprendizado podem ser agradável e intrinsecamente gratificantes.” (Roger Schank)

Renato Hirtz – julho 2012

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